quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Review: Nada Aparentemente Termina Iniquieto - Caetano Grippo

     Se tem uma coisa que eu sempre odiei em toda minha vida, com certeza são as histórias com toque de terror. De uns anos pra cá eu até tenho tido um pouquinho mais de contato com esse gênero - mas bem pouco mesmo - por conta de alguns amigos que gostam muito mesmo desse tipo de história. Mas até hoje o terror passa longe de ser o meu gênero favorito e eu sempre fico brincando com os meus amigos falando coisas como: "pra que eu preciso consumir esse tipo de coisa se a minha casa parece uma mansão mal assombrada à noite e eu vejo vultos passando pela porta do meu quarto?"

    Enfim, acho que a única coisa desse gênero que eu consigo consumir um pouco são os animes, muitas vezes por conta do elenco e provavelmente porque na grande maioria das vezes é 2D, então não me dá tanto medo. Até porque eu sou aquele tipo de pessoa que fica com medo de dormir e/ou acaba tendo pesadelos com as coisas que eu li ou assisti.

    Inclusive quem me conhece deve estar se perguntando mas porque raios eu, logo eu, estou fazendo um texto sobre contos que são meio de terror? Não é porque é Outubro, nem é porque é o mês do Halloween, apesar de ser mera coincidência.

    O motivo é simples: "Nada Aparentemente Termina Iniquieto" foi escrito por um queridíssimo amigo meu da época da faculdade, Caetano Grippo. Para aproveitar o clima, eu decidi cumprir a minha promessa de falar sobre ele. Incluisve, um beijo pra você, meu querido.


  

    "Nada Aparentemente Termina Iniquieto" na verdade não é uma história corrida, mas sim um compilado de contos que Caetano escreveu, abordando temas como sonhos - eu inclusive diria mais pesadelos -, emoções, sentimentos complexos e principalmente o medo.

    Por ser uma pessoa muito medrosa, que tem uma imaginação meio fértil e ansiedade, eu levei vários meses para terminar de ler. Inclusive tiveram textos que eu li, fiquei com medo e falei "ok, acho que vou ter pesadelos com isso essa noite, talvez eu continue outra hora, hahaha (risos de nervoso)". Mas eu me esforcei, consegui terminar e cá estamos hoje!

    Por eu ter convivido com o Caetano por uns anos, eu digo que esse livro é muito engraçado. Obviamente não por conta das histórias, mas pessoalmente falando, a personalidade dele quando nos encontramos é muito diferente da abordagem que ele traz como artista, porque pra mim ele sempre foi muito alegre, amigável e carinhoso com os outros, inclusive comigo. E eu simplesmente acho esse contraste incrível. 

    Cada texto que foi escrito aqui me deu a sensação de ter assistido à um curta. A descrição e a ambientação onde se passa cada conto é realmente tão bem escrita, que mesmo dando medo dá vontade de ler até o final e ver o que vai acontecer. Isso sem contar que é uma leitura muito fluida, então quando eu me dava conta, a história tinha já acabado e muitas vezes eu ficava perplexa pensando: "Ué, é isso? Meu Deus, como assim??". E inclusive alguns contos eu tive que ler mais de uma vez para tentar processar direito o que havia acontecido.

    Esse livro contém no total sete contos: Sonho de Teresa; Carpe Diem; Nada Aparentemente Termina Inquieto; A Canção Estrangeira; Cão da Estrada; Você Nem Ao Menos Conhece Ela e Puer AeternusEu vou tentar escrever um pouquinho sobre o que cada um deles me remeteu, sem tentar estragar a experiência de leitura. Talvez eu falhe miseravelmente.


    ・Sonho de Teresa
    Eu simplesmente achei a descrição desse conto incrível, pois deu mesmo para sentir o que Teresa sentiu, como ela era tratada e a situação pela qual ela estava passando. Confesso que foi bem desesperador sentir o desespero dela e as falas do homem, que traziam muita tristeza e ao mesmo tempo um pouco de revolta e negação pela existência da própria Teresa. 

    Eu passei uma boa parte sem saber quem era o homem que estava falando com ela o tempo todo, mas foi bem chocante quando descobri quem é no final. Eu fiquei uns minutos olhando para o livro pensando, "meu Deus do céu, mas o que eu acabei de ler aqui???"


    
Carpe diem
    Até onde eu me lembro, "Carpe diem" é uma expressão latina que significa "aproveitar o dia", e por isso, na minha cabeça a imagem era sempre de uma coisa mais leve, alegre, de você dar importância para as coisas pequenas e simples. Mas aqui, a sensação que me deu foi exatamente o contrário. 

    Foi bem louco inclusive, porque esse texto me lembrou muito mesmo alguns momentos que eu tenho crise de ansiedade, naquela hora que a sua cabeça começa a pensar mil coisas e aí tudo vai te engolindo para um inferno, mas na verdade tudo isso está acontecendo só dentro de você, enquanto "lá fora" está tudo normal.

    No entanto, a coisa que eu mais gostei - e nesse caso foi só a minha interpretação mesmo -, foi um pouco dessa coisa de que o importante é manter o foco em si para quebrar esse ciclo que te afoga e voltar aos seus eixos. Não é atoa que a minha frase favorita é desse conto: 

"Mantenha o foco, a concentração, não deixe isso tirar você dos seus objetivos."

    Foi um texto que realmente me ajudou muito, e inclusive me deu um conforto no final, como se fosse mesmo uma fala de apoio que às vezes eu preciso ler e ouvir de alguém.


    
Nada Aparentemente Termina Inquieto
    Conto que dá título ao livro. Esse texto me fez pensar um pouco nessa coisa toda da relação da arte com ser algo que pode salvar a gente em momentos de desespero, de como as palavras quando contidas de sentimento podem transformar as coisas. Até porque para mim a arte sempre foi isso, já que eu particularmente nunca consigo colocar muito bem em palavras certos tipos de sentimento, mas consigo expressar isso um pouco melhor nas coisas que eu desenho.

    Por outro lado, uma das coisas que eu mais achei interessante é como aqui tem um pouco também daquela cenas de terror que parece que tem alguém atrás de você, mas você não consegue se virar por estar paralisado? Pois é, eu confesso que senti um frio na espinha nessa hora, hahaha. Inclusive eu tenho a sensação que a última cena era de algum lugar, mas eu tenho uma memória muito fraca para lembrar de onde vi. De qualquer jeito foi uma mistura bem interessante e me deixou um pouco inquieta mesmo.


    
A Canção Estrangeira
    Esse foi um dos textos que quando li pela primeira vez, eu não entendi muita coisa para ser sincera. Mas uma das coisas que mais achei interessante foi essa coisa de canções em línguas que não conhecermos parecerem um mantra, ou de canções em línguas que não é todo mundo do seu círculo que entende, e meio que fica algo meio "secreto" entre aqueles que entendem.

    Em contrapartida, a cena com o médico e a sensação de "estar afogada" também me remeteu a fase da negação do luto, principalmente quando é em relação à alguém muito próximo e muito querido. Isso junto do modo como cada pessoa acaba lidando com esse tipo de situação, misturado com os arrependimentos sobre o que poderíamos ter feito de diferente.

    Me lembrou um pouco a sensação que passei recentemente de perder entes queridos.


    
Cão da Estrada

"Tenho a impressão de que as pessoas esperam demais"
    Essa foi a frase que mais ficou na minha cabeça depois de ler "Cão da Estrada". Vendo o texto do final do livro, pelo que eu entendi essa história é um curta-metragem que Caetano participou da produção. Eu não assisti ao curta, então não tenho parâmetro de comparação nesse ponto.
    Mas o texto aborda toda a relação dos sentimentos e dos relacionamentos e como que, por mais que você conviva junto da sua família ou de uma pessoa por muito tempo, às vezes existem muitas coisas que você nunca vai saber. Até alguma situação grostesca acontecer e mostrar como cada pessoa reage de um jeito diferente diante do mesmo momento.
    A indiferença e a compaixão. Até que ponto o silêncio evita as brigas ou só as intensifica mais e como a dificuldade de falar e se abrir - principalmente sobre as dores do passado, problemas e até mesmo questões sociopolíticas - e esperar algo do outro criando expectativas em cima disso é algo muito complicado e que pode acabar quebrando um pouco as relações.
    Com certeza é uma coisa que todo mundo passa enquanto vive, e para mim essa história mostra como as relações humanas são mesmo uma coisa profunda. Eu fiquei pensando o porquê de ser tão difícil de abordar no dia a dia. Talvez por medo de magoar o outro? Do clima ficar ruim? Eu sinceramente não sei.

    Você Nem Ao Menos Conhece Ela 
    Achei muito interessante como aqui o personagem principal reflete toda essa coisa de "idealizar alguém" e de procurar em outras pessoas coisas e traços similares com alguém que criamos uma relação e um laço forte, uma paixão.

    Foi muito interessante ver essa perspectiva emocional do narrador e o que ele pensa e sente em relação à essa pessoa que ele ao menos conhece. E inclusive ver de um modo bem descrito como o fato de falarmos o que sentimos para a outra pessoa pode fazer, e normalmente faz com que a perspectiva da relação que já existia acaba mudando. 

    E não só isso, mas como também sem querer nós acabamos colocando uma certa expectativa em cima por conta da nossa imaginação de pensar na reação do outro, principalmente se você já passou por algum outro relacionamento. Isso me lembrou um pouco de experiências passadas, e acho que foi uma bela descrição dessa sensação/sentimento.

    Puer Aeternus
    Em latim, "Puer Aeternus" significa "Eterno Jovem". 

    A introdução desse último texto foi bem interessante, porque essa sensação de não saber se você está acordado ou sonhando enquanto tenta dormir pensando em várias preocupações é algo que de vez em quando eu passo também, principalmente em dias que estou com a cabeça meio cheia. 

    Essa sensação junto com a descrição no começo e a sensação de que a mãe do protagonista não estaria mais lá junto do corpo dele desaparecendo aos poucos foi um link muito curioso. Eu senti como se fosse aquela frase do "parece que uma parte de mim se foi", mas nesse caso isso foi realmente mostrado de modo descritivo e para mim foi uma ótima analogia. Acho que por enquanto não tem jeito que descreva isso melhor, pelo menos pessoalmente.

    Outra coisa que eu achei bem legal foi a parte que ele fala sobre contar as histórias, delas serem um mundo pararelo, que às vezes isso vem como um um escape de algo ou experiências ruins, e o sentido que damos para elas enquanto ficção - até porque o leitor nunca vai de fato saber se o que foi escrito é verdade ou não e ele pode muito bem interpretar as coisas como bem entender.


    No geral eu tenho que dizer que esse livro como um todo é uma grande experiência, e sinceramente, foi um pouco difícil de escrever. Eu tive que ler umas duas vezes cada conto para tentar processar melhor as histórias na minha cabeça inclusive, mesmo elas sendo muito fáceis de visualizar. Mas isso fez com que eu acabasse refletindo sobre coisas - coisa que eu não estava esperando sinceramente-, e por isso mesmo foi muito interessante.  

    Acho que isso é a coisa legal da arte, como você é antes e depois de entrar em contato com ela; como ela pode te fazer repensar, refletir e ressignficar coisas e sentidos dentro de si próprio dependendo do momento que você está passando, seja por meio de um texto, uma música, uma pintura, um filme e tantas outras formas de expressão.

    No meu ver pelo menos, a arte sempre acaba sendo um pouco crítica, por mais que às vezes não haja tanto essa intenção. Principalmente porque eu vejo muito ela como um reflexo dos sentimentos que o artista teve naquele momento em que fez a obra, seja em relação ao mundo que vivemos ou ao seu próprio mundo inrtrospectivo. Inclusive falando por mim mesma, que também me expresso a minha introspecção através da arte.

    Uma outra coisa muito legal que tenho que pontuar aqui, é que lá no final do livro o Caetano escreve um pouco sobre como foi o processo de cada texto e o que aquilo significou para ele. Eu achei bem bacana mesmo, porque é raro a gente ver o que o próprio autor pensou na hora de escrever cada texto, então eu aconselho dar uma lida em cada um desses comentários que ele faz no final logo depois de ler cada conto. Vale muito a pena.

    Eu com certeza gostaria de recomendar essa leitura para todo mundo! Acho que esse é um livro que faz você pensar um pouco nos seus próprios medos e principalmente dessa coisa de entrar em contato com eles. Claro que aqui são histórias, mas no momento em que eu estava lendo o livro eu fiquei pensando muito dentro de mim sobre essa coisa de encarar os próprios medos e os pesadelos internos que a gente vive durante a vida.

    Caso alguém se interesse, esse livro está disponível para compra na Amazon e pelo site da Editora Patuá.

    Para fechar, eu queria agradecer muito o Caetano por escrever um livro tão legal! Eu não posso dizer que essa experiência foi horrível de boa (que piada horrível, perdão), mas inclusive obrigada pela insônia que esse livro me deu (pode rir, eu também estou rindo). Fico muito feliz de verdade de poder ter apoiado esse seu projeto!

    Mas brincadeiras a parte,agradeço de coração mesmo pela experiência e eu fico muito feliz e tenho muito orgulho de ver e sentir o seu modo de se expressar em diversas formas, amigo! Muito obrigada!

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