sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Review: Virche Evermore~ErroЯ:Salvation

    O que você normalmente pensa quando ouve a palavra "otome game"? Eu, como uma jogadora desse gênero há mais de 10 anos, com certeza pensaria "jogo de romance bonito com meninos bonitos, que tem voz bonita, uma história bacana e vários finais".
Porém, diferentemente das temáticas dos outros otomes que já joguei, Virche Evermore~ErroЯ:Salvation foi um jogo completamente fora das minhas expectativas. Eu não sabia muito o que esperar, só tinha conversado com a minha amiga sobre esse jogo e fiquei tão curiosa sobre a história que decidi comprar e jogar. Então aqui vai a minha review SEM SPOILERS.

    Lançado originalmente em outubro de 2021 no Japão e em novembro de 2023 no ocidente, Virche Evermore ~ErroЯ:Salvation é um otome game desenvolvido pela Otomate e Ideia Factory e traduzido pela Aksys Games.


    Sinopse: Em uma ilha onde as pessoas nascem com uma maldição que as leva à morte aos 23 anos, o povo lamenta e se opõe aos seus curtos destinos.
Um vigia aparece para a garota conhecida como "Morte" e a guia na descoberta dos mistérios que assombram a ilha – quer ela goste ou não. Desespero é o destino que aguarda aqueles que são amados pela Morte.

    Sendo bem sincera, a primeira vez que eu vi o trailer desse jogo na eShop eu fiquei com um pouco de medo. As cores escuras e a música-tema com um tom mais "dark" foram bem impactantes. Por que então eu fui dar uma chance para comprar esse jogo? (R: Saitou Souma).
    Brincadeiras à parte, uma das coisas que mais me chamou atenção para jogar foi, além do elenco, essa temática mais "pesada" que ele tem, principalmente considerando que a empresa que lançou é a Otomate. Mas não é só isso que faz Virche Evermore ser um ótimo jogo.
    Daqui para frente vou separar o que pretendo falar em tópicos, para ficar mais fácil de ler e entender.

Gameplay

    Como todo jogo Otome, a gameplay é basicamente feita de leitura de texto e escolhas. Algumas escolhas que você faz têm um peso maior (ou seja, podem mudar o rumo da história) e possuem uma animação que ajuda a identificar se você fez a escolha correta ou não. Se você fizer a escolha certa, uma flor de Lycoris aparecerá. Caso contrário, a tela dará um chiado, como se fosse uma interferência. Por isso, não se preocupe tanto, se o chiado acontecer, a sua TV/switch não está quebrando.


    Você também pode mudar o nome da personagem principal, Ceres, se quiser. Eu particularmente não recomendo, principalmente porque acho que acabar se envolvendo demais se colocando no lugar da protagonista pode prejudicar um pouco o entendimento da história e fazer com que os gatilhos batam mais fortes. (Juro, você não precisa se colocar no lugar da personagem pra sofrer nesse jogo, a dor e o sofrimento são inevitáveis.)
    Esse jogo também possui um glossário que vai sendo preenchido conforme você joga. É possível acessá-lo através do menu.
    Além disso, mas não menos importante (na verdade talvez essa seja a coisa mais importante desse jogo todo) é a opção de Flowchart. Nele você vê o mapa de cada personagem separado e o rumo em que a história está andando. Ele é bem útil, pois acessando-o, você pode voltar em capítulos passados e refazer as partes que achar necessário. Além disso, nele também fica marcado o que já foi lido e se todas as escolhas possíveis em questão já foram feitas ou não, deixando mais fácil pra voltar em um ponto mais específico sem ter que reler os capítulos inteiro — que são bem longos.

História e construção de mundo



    Com uma história muito interessante, muitos mistérios para desvendar e personagens muito bem construídos, o jogo te prende do começo ao fim. A construção de mundo, o contexto em que a história se passa e toda a mitologia e os mistérios foram muito bem pensados e muito bem escritos — Falo isso porque esse foi provavelmente o primeiro Otome que eu fiquei por várias horas jogando direto querendo entender o que estava acontecendo.

    Por isso jogar na ordem recomendada (vou deixar no final do post) é muito bom, pois as histórias dos personagens vão se ligando enquanto tudo se liga à história principal. Além disso, você tem MUITOS, mas MUITOS plot twists de explodir a cabeça.

"Em uma ilha onde as pessoas nascem com uma maldição que as leva à morte aos 23 anos, o povo lamenta e se opõe aos seus curtos destinos"

    Além da própria ilha ser conhecida pela maldição da Morte, uma das coisas que eu mais achei interessante no jogo é a questão da tecnologia que foi criada para enfrentar o desespero da "Morte"— a tecnologia Reliever. Ela faz com que os habitantes consigam "reviver" após os 23 anos—, e por conta dela, você percebe como é o psicológico das pessoas e como a mentalidade do povo de Arpechelé funciona. 

Personagens

    Tanto os personagens principais quanto os secundários também são muito bem construídos. Por mais simples e genérico que algum deles possam parecer, todos possuem um papel dentro da história e principalmente têm um motivo para agir do jeito que agem. Foi algo que eu achei muito, mas muito bom mesmo, e é a partir da construção dos personagens que as partes mais interessantes do jogo acontecem, então se vocês forem jogar, prestem bem atenção.




"É OTOME, ENTÃO É UM JOGO DE ROMANCE"

    Apesar de ser um jogo da Otomate — conhecida por lançar jogos voltados para o público feminino normalmente focado em romance —, esse jogo em si não foca muito nisso primeiramente e acaba dando mais atenção aos mistérios relacionados às mortes que acontecem no país (não quer dizer que não tenham cenas românticas, tem, mas o foco realmente não é esse). Para mim, esse foi o maior ponto do jogo e as partes românticas também são bem boas.

Um jogo que te faz refletir

    Uma das coisas que o jogo mais faz aqui é sempre te questionar até que ponto vale a pena você viver a sua vida até os 23 anos ou reviver como um Reliever, provando que as coisas não são simplesmente "preto no branco". Esse ponto me fez refletir muito na vida real também e pensar como o peso das coisas são diferentes para cada pessoa. Além disso, toda a questão política por trás da história e dos mistérios também é algo bem interessante e que eu particularmente até achei que é uma coisa que você consegue claramente identificar em momentos da vida real. (O que sinceramente é meio assustador, mas né, acontece)


Trilha Sonora/Cenários/CGS

    Outro ponto muito positivo é a trilha sonora do jogo que deixa a experiência em outro nível, principalmente nos momentos de maior tensão. O tema principal do jogo possui um coro que traz muito a sensação de desespero, fazendo jus à premissa. E, como comentei em cima, apesar de haver cenas que se passam durante o dia, com cores claras e algumas músicas mais bonitinhas e animadas, grande parte dos momentos mais sérios se passam durante a noite ou em lugares fechados, fazendo com que a escuridão e a sensação de falta de liberdade tragam o clima pesado, perigoso, tenso e mórbido que paira sobre o país onde se passa o jogo.
Os CGs também são muito bonitos, mesmo em cenas mais desesperadoras.

Casting

    Vou ser bem sincera que eu fui convencida a jogar esse jogo por conta das vozes em japonês. Eu preciso bater palma para todo o elenco mesmo, não só dos personagens principais das rotas, mas o elenco secundário também é muito bom. Principalmente nas cenas mais pesadas, os gritos realmente passaram uma sensação de desespero de doer o coração e de me fazer chorar muito.
    Como destaque, eu claramente tenho que dar crédito ao Soma Saito, ele foi completamente MARAVILHOSO como Yves —aka melhor personagem desse jogo todo—, tanto que ele foi o principal motivo de eu ter jogado Virche Evermore e de me fazer chorar que nem uma desgraçada. Outro dublador também que tenho que comentar é o Chiharu Sawashiro como Capucine —muito obrigada por me fazer odiar tanto um personagem como esse, hahaha—, o Daisuke Hirakawa como Lucas e Amasaki Kouhei como Mathis.

Outros pontos que acho importante relevar

1) Primeiramente, gostaria de avisar que esse jogo possui uma lista de finais ruins GIGANTESCA, finais desesperadores e apenas um final de Salvação para cada personagem. O jogo te força a fazer todos os outros finais desesperadores e finais ruins de todos os personagens primeiro.

2) Os finais de salvação em específico não podem ser conquistados logo de cara. Você precisa liberar o Ato 3 e jogar ele para depois conseguir esses finais de cada personagem.

3) Linkando com a grande lista de finais ruins e desesperadores, é importante deixar claro que ESSE JOGO PODE TER GATILHOS PESADOS relacionados a temas sensíveis como: mutilação, tentativa de suicídio, assassinato, genocídio, cultos e extremismo, discriminação, experimentação e tráfico humano... Apesar de não ter muita cena pesada graficamente (mas pra ficar claro que tem algumas que eu achei um pouco pesadas pelo contexto), eles fazem questão de detalhar bastante no texto, então tomem cuidado, e se precisar parar, parem, continuem outro dia ou não continuem se for demais. De verdade. (Eu tive que fazer isso e parar por alguns dias)

4) O jogo vai te fazer chorar MUITO, mas muito MESMO. Eu que não sou uma pessoa que chora jogando ou vendo alguma coisa, chorei várias vezes igual uma desgraçada. Então mais uma vez, TOMEM CUIDADO e se precisar parem para dar um tempo.

5) Na abertura de cada capítulo há um narrador contando uma história. É importante prestar bastante atenção nela, pois além de ser relevante para entender o jogo, é um monólogo que não dá pra ser lido na lista de diálogos normais.

6) Esse jogo tem MUITAS, mas muitas informações mesmo e todas elas são completamente necessárias e relevantes pra história. É muita coisa pra associar e pensar. Já adianto que a rota do Scien em específico é muito técnica. Ela é muito boa, pois explica várias coisas e tira várias dúvidas, mas exatamente por conta disso que EU particularmente achei a mais difícil de jogar, de guardar as informações na cabeça e até mesmo de me concentrar um pouco.
Por isso, se você é uma pessoa que nem eu que não consegue guardar muitas informações de uma vez (principalmente coisas e termos mais técnicos), aconselho ir anotando o que achar relevante e principalmente as suposições que vierem na cabeça. A minha jogatina ficou bem mais legal porque eu anotei as minhas suposições, e quando elas se provaram ser verdade, eu fiquei MUITO FELIZ (OU EXTREMAMENTE TRISTE).

Pontos negativos

    Juro que eu fiquei pensando muito em que tipos de ponto negativo esse jogo tem. Sinceramente foi difícil de achar algum, mas tiveram algumas coisas que eu não consegui guardar direito na cabeça, mas talvez isso seja resolvido se eu rejogar com mais calma ou ver uma gameplay. Além disso, eu também fiquei curiosa sobre o Drifter, mas parece que vão ter mais coisas sobre ele no EpiC:Lycoris, então acho que só me resta esperar mesmo.

Por fim, vou deixar aqui a sequência recomendada para jogar: Mathis→Lucas→Scien→Yves→Le Salut.
Eu joguei seguindo essa ordem e as coisas fizeram completo sentido, então recomendo!

Considerações Finais:

    Com uma premissa bem interessante, uma história bem estruturada e personagens cativantes, Virche Evermore ~ErroЯ:Salvation é um jogo completamente diferente dos otomes "tradicionais". E, exatamente por isso, acho que merece demais ser jogado e apreciado. Não garanto que você vá se divertir, pois o jogo é pesado em questão de temática, mas com certeza é uma boa história de mistério que vai render muitas sensações e reflexões.

    Aparentemente existe uma continuação desse jogo, chamado “Virche Evermore -EpiC: Lycoris-”, que tem previsão para lançar no Ocidente ainda esse ano. Parece que essa expansão vai trazer mais detalhes das cinco histórias, então estou contando que algumas pontas soltas sejam resolvidas ali. Estou bem animada para esse lançamento, então provavelmente também vou trazer uma review dele aqui quando terminar de jogar.

    Eu particularmente não gosto de dar notas em números, mas com certeza é um jogo que recomendo, principalmente para quem quer ter uma experiência diferenciada em um jogo otome e para quem gosta de uma boa história com bons mistérios e reviravoltas.

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